segunda-feira, 6 de dezembro de 2010


A entrevistada dessa semana e uma cronista da vida urbana assina uma coluna na REVISTA S! onde fala sobre conflitos humanos.Rozzy Brasil(foto) alem de grande cronista e uma ativista da causa lgbt e desenvolve um trabalho onde ajuda crianças carentes portadoras do HIV.Cm suas cronicas ja causou paixoes e odios.Sempre muito contundente e inteligente na sua opiniao vc vai ler a seguir uma entrevista onde vc vai parar e pensar cm certeza.Entrevista concedida a Jonnathan Alves
1-    Como surgiu a idéia da coluna “Crônicas Urbanas”?

A coluna em si surgiu quase por acaso. Eu já escrevia e a Myriam Galvão, sócia  do então  Jornal O Sexo mostrou um texto meu para o seu sócio José Carlos
e sacaram que era uma crônica. Conversamos e a idéia da coluna seria escrever sobre fatos, sentimentos comuns a todas as pessoas. Ninguém é melhor ou pior por ser gay, ser hétero não transforma ninguém numa maravilha de pessoa. Relacionamento traz dores e alegrias indistintamente para o ser humano e o fato de vivermos num centro urbano como o Rio de Janeiro potencializa nossas oportunidades de sentir, nos obriga a estar em movimento e muitas vezes não nos oferece escolha, a gente tem que conviver! Apenas podemos permitir um grau maior ou menor de intimidade, a proximidade é muitas vezes inevitável.

2-     Como você vê a militância existe divisão ou é impressão?

Toda militância nasce da divisão por conta do preconceito.  Luta-se por direitos negados pela sociedade, daí haver células de militâncias, acontece naturalmente. A militância gay  tem características particulares. Perceba: Negros são negros independentemente do sexo e da posição social, ainda que os mais ricos sejam aceitos com menos dificuldade, seu status social não os livra integralmente do preconceito ou seja algumas lutas se apresentam como  um bloco único e ainda assim há dissidências.

3-Como você vê o trabalho das ONGs LGBT?

Vejo com bons olhos todo e qualquer trabalho para o esclarecimento e justiça social, pela redução do sofrimento causado pela intolerância. Tudo o que se fizer direcionado para esse caminho precisa ser estimulado, principalmente se a busca é para que as pessoas sejam vistas a partir da sua condição de pessoa, ser humano, cidadão brasileiro.


4-Como você  vê a parada, hoje, segundo críticos e até você abordou na sua coluna. Tá deixando de ser luta pra virar momento pegação. E isso mesmo a luta acabou?

A luta está só no começo, porque não há luta se o adversário não comparece, não “bota a cara”. Hoje temos a visão do tamanho do preconceito, do poder do adversário. O que não temos é armas para essa luta, que armas seriam estas? A legislação. Nossas armas são ferramentas de inclusão e objetivos em si.
Os direitos são adquiridos com processos e ações judiciais o que não é democrático. A Constituição não é respeitada, pois ela diz que todos são iguais e na prática vemos que não é assim. Ser homossexual não é ser diferente,  embora tenhamos que o tempo todo “fazer a diferença” onde quer que estejamos.
 Quanto à parada ser momento de pegação, seria ingenuidade demais querer que  essa prática  não existisse, porque faz parte do ser humano “pegar” ou tentar em qualquer lugar. Se tem mais de uma pessoa num local, já está aberta a temporada de caça e isso não é só para gays.
Pra seguir o mesmo raciocínio da minha última coluna, o carnaval é momento de pegação? Sim, pra quem tem essa intenção. A parada é momento de militância? Sim para quem lá está com esse objetivo. O fato é que mesmo debaixo de preconceito, hoje vivemos uma situação menos desconfortável que no passado, como “só quem morreu na fogueira sabe o que é ser carvão”, a conscientização para o foco da luta homossexual , começa dentro do próprio grupo. Não educaremos os de fora se não fizermos o trabalho de casa. Na coluna eu coloquei pontos para nossa reflexão, eu gosto de pensar e provocar discussão mais do que criticar.


5- O que você faria pra mudar esse panorama de desmobilizaçao da comunidade?

 Abrir a cabeça de cada um e colocar lá dentro um bilhetinho: “Réloooouuuu! Você pertence a uma comunidade!!!!” rsrsrsrsr.
Um grande problema é o excesso de individualismo.

6-Como você viu o ocorrido com o rapaz no parque Garota de Ipanema? Você  não acha que ele se arriscou entrando no parque fechado pelo buraco da grade?

E daí?  No máximo deveria ter sido conduzido a uma delegacia para responder por invasão, não é verdade? Quantos pichadores ou baloeiros invadiram propriedades privadas, tomaram tiros de seguranças e os seguranças foram levados a responder por seu crime? E quantos disseram: “Tadinhos dos meninos”.
A grande pergunta é: se fosse um casalzinho hétero, haveria tiros também? Sempre falo que o pior da homofobia é a covardia travestida de defesa da moral, uma doença.

7- Você não acha que esse tipo de atitude mancha a comunidade e acaba dando munição aos religiosos que tanto nos condenam e aos homofóbicos que vivem a nossa espreita?

Os rapazes espancados em São Paulo, apenas caminhavam pela calçada.
Para os homofóbicos e maus religiosos (aqueles que fazem da religião uma ferramenta da intolerância) não é necessária nenhuma atitude para condenar o homossexual, basta que  ele exista para sofrer condenação por parte  desses seres...
Os garotos invadiram o parque porque eram gays ou porque são jovens e jovem tem muito de inconseqüência e faz merda mesmo?

8- Como você vê o nosso futuro? Existe a possibilidade da união homoafetiva ser aprovada no Brasil?

Olha que bonito você falou: “união homoafetiva”. A forma de falar, de certa maneira está sendo manipulada por pessoas muito espertas, não deixa de ser um desinformação chamar a lei de “casamento gay”, isso sim municia os homofóbicos e religiosos preconceituosos.

Na vivência a união já existe, as pessoas se conhecem, transam, moram juntas, da mesma forma que um casal hétero que em grande volume opta por não gastar seu dinheiro com papelada, cerimônias e festas e roupas específicas para o casamento, eles economizam e facilitam o processo de união e separação e mesmo com esta modalidade de casamento informal, tem sua segurança familiar e patrimonial previstas em lei. No caso dos homossexuais,há relatos de experiências que chegam a ser desumanos!
 Em que essa a lei homoafetiva interfere na vida dessas pessoas heterossexuais que são contrárias a ela? O que elas têm com isso?
 O gay paga impostos e tributos revertidos em parte para os benefícios os quais  os héteros tem direito... Isso deveria ser o suficiente para a luta não se restringir aos grupos organizados, nem às paradas anuais.
A união homoafetiva será aprovada, sim no Brasil, O divórcio foi, a criminalização do racismo foi, o voto feminino também foi, a união homossexual também será! Espero que breve!
Não sei quando, porque é um processo que mexe diretamente com a hipocrisia nacional.
Eu tenho um blog onde registro  todas as minhas crônicas publicadas na revista S! Lá tem uma foto do Lula sorridente segurando uma bandeira do arco-íris. O Lula ficou 8 anos no poder, desde quando tramita no Congresso a Lei  das uniões homoafetivas? Creio que desde 2006... Tem algum outro nome pra isso, que não seja hipocrisia?
Um projeto simples em  essência, pensado para reconhecer a união de pessoas do mesmo sexo, com o objetivo de dar direitos patrimoniais na sua união/dissolução e direitos sucessórios. O que a religião tem a ver com isto? 
Uma pessoa  que é expulsa de casa  pela família por ser homossexual, contrai  um relacionamento e constrói um patrimônio, morre e é a família que detem os direitos de herança desse patrimônio.  Hipocrisia não é um nome apropriado para isso?

9- Os nossos direitos foram usados como moeda de troca pelos então candidatos a presidência pra conseguir apoio de grupos religiosos como você viu essa atitude dos candidatos? Você acha que houve retrocesso?
Para haver um retrocesso teria que se ter ido adiante... Muitos candidatos prometeram, se comprometeram e mudaram de idéia abandonando os compromissos, mas isso acontece desde que os políticos existem.  A causa gay não é a única a ser manipulada e se nos baseássemos nesse critério, a eleição seria impugnada por ausência de votação.  Na minha opinião,  religiosos teriam que se abster de pleitos políticos. Mas é assim que é e está, então cobrança neles! Temos que acompanhar, perturbar, cobrar!
10- A cantora Wanessa levantou a bandeira da uniao homoafetiva inclusive disse que vai tentar se reunir com a presidente eleita Dilma para falar sobre a união homoafetiva. Como você vê essa atitude, você acha válida? Preta Gil que há  anos faz show em uma boite gay teve um pai ministro e nunca moveu uma palha pra nos ajudar você acha que Wanessa pode conseguir?
A Wanessa como todo e qualquer cidadão brasileiro tem todo o direito de reivindicar! Com a presidente?  Ótimo que ela tenha esse acesso! Claro que é válido! A gente não precisa passar fome para se mobilizar por um projeto tipo “Fome Zero”. 
Quanto à Preta, não sei se ela alguma vez se mobilizou para esta ou qualquer causa. Não sei o nível de sensibilidade dela para com a causa homossexual, mas conviver com gays com naturalidade e gostar, testemunhar a favor, já pode ser considerada  uma ação e que muito gay por aí não pratica. O fato do pai ser ministro talvez tenha atrapalhado mais que ajudado.
10-Falam muito em beijo gay na TV.Você acha a sociedade ta preparada?
A sociedade não está preparada para ver um gay vestido, calado e parado, imagine beijando na TV...
11- Nós elegemos um representante pro congresso o Jean o que você espera dele? 
Bem, o Jean é um candidato que teve uma plataforma voltada para direitos humanos, não tão explicitamente LGBT, talvez porque gays não votem em gays, há tempos eu  li um comentário dele sobre a “homofobia internalizada” dos eleitores homossexuais. Então o vejo como um candidato gay por assumido que é,  mas não necessariamente um candidato da causa gay, se ele batalhar pela aprovação da lei que criminaliza a homofobia por ser uma questão de Direitos Humanos já é uma grande coisa. Ele tem tudo pra isso, mas expectativas eu  não tenho. Se analisarmos bem direitinho, não o elegemos, me parece que o Jean foi eleito com o excedente de votos do Chico Alencar , talvez de outros da legenda. Não acompanhei a votação dele, amigos comentaram comigo que o total de votos recebidos pelo Jean, não o elegeria. Se é verdadeiro, é péssimo porque confirma que gay não vota em gay e eis aí a internalização da homofobia... Uma vez que ele está lá, torço por ele. É um cara inteligente e articulado que lê e estuda, uma admiração que tenho por ele, é ele ter sabido dizer que era gay no momento que tinha que dizer. Coisa mais chata povo cochichando nas costas da gente, não?
12-Um novo caso de homofobia aconteceu em SP agora envolvendo menores como você viu esse caso e atitude dos pais e do advogado que defenderam eles?
Como eu vi? Da pior forma possível. Toda e qualquer violência é deplorável e no caso de Sampa, ultrapassa a fronteira da violência porque foi um ato de extrema covardia gratuita. A homofobia tem que ser criminalizada por ser a mais pura expressão da covardia, por ser crime gratuito. Filhos com esse comportamento, é previsível que tenham pais que os defenda nessa postura, poderia haver uma pena de prestação de serviços à comunidade pra família toda, processo reeducacional... Quem sabe eles mudariam esses péssimos (pré)conceitos . Num debate, certa vez uma pessoa defendeu o seguinte:” Que os gays querem prerrogativas de proteção que vão contra a Constituição, pois já existem leis para punir agressões criminosas.” Perguntei porque não se manifestou dessa forma no debate sobre a Lei Maria da Penha ou Afonso Arinos e também, se na opinião dele era legítimo meninos ricos espancarem uma mulher “porque pensou que era prostituta” ou “queimarem um índio pensando que era mendigo”. Lamentavelmente ele preferiu não falar mais comigo....
13- Qual a sua maior alegria e decepção no meio gay e o que você espera do futuro? 
Uma alegria é ter a minha coluna lida e comentada para o bem ou para o mal. Ter sido convidada para esta entrevista, diante de tantos cronistas mais populares me deixou alegrinha mesmo!
Uma alegria futura e improvável, seria quando as pessoas deixarem de se preocupar tanto com a minha opção sexual. No meio hétero se a gente não sai pegando ninguém do sexo oposto, desperta essa curiosidade. No meio gay perguntam sobre ativa e passiva (termos que acho pra lá de cafonas). Preferia que tivessem mais curiosidade com relação ao meu caráter ou profissionalismo. Interesse em saber se eu sou uma boa pessoa.
Uma decepção é o preconceito que muitos gays tem contra sua própria condição
14-  Qual o trabalha da casa da vida?Como surgiu?
Eu sempre estive envolvida com alguma atividade voluntária , prefiro  voluntariado que incluA relacionamento, nada dessa coisa de fazer uma doação e dormir tranqüilo como se tivesse pago uma prestação da minha morada no céu. Eu gosto de me envolver e conhecer as pessoas e sentir a troca do bem.
Comecei lendo histórias para as crianças hospitalizadas, depois dando aulas para mantê-las em dia com o conteúdo escolar.  Então , fui trabalhar numa Associação de apoio ao combate ao câncer com a publicitária Rita Schmied, produzíamos e organizávamos eventos para a causa,  voluntariamente, pedíamos doações para atividades nos hospitais, fazíamos festas para as crianças e familiares, organizávamos  programas de entrega de cestas básicas.
Quando saí desse emprego mantive essas atividades voluntárias, nós tínhamos um sonho em comum, criar um núcleo de solidariedade  direcionado para os portadores de doenças graves Então sonhamos a Casa da Vida.
O trabalho da Casa da Vida:  Realizamos eventos para captar recursos para ajudar pessoas e mesmo instituições sem fins lucrativos para algum objetivo específico ou mesmo que esteja com alguma difuculdade
 Damos consultoria, orientamos essas instituições a criar projetos para que se tornem auto sustentáveis.
Colaboramos com grupos de voluntários, atualmente do Hospital São Francisco de Assis no segmento das crianças soropositivas.
Temos uma visão de que a cultura alimenta o espírito e reforça o tratamento, assim, a gente promove a 1ª ida ao teatro de pessoas portadoras de necessidades especiais, deficiência mentais, sem recursos  enfim, pessoas que por uma série de motivos nunca pisaram num teatro ou cinema.
Atualmente estamos desenvolvendo um planejamento para a Ação Social Edmundo & Olga que inclui programas de geração de renda, curso livre de teatro, cineclube,  além da creche comunitária Anjinho Feliz que já era mantida por essa Ação Social. É um trabalho muito amplo e diferente, pois trabalhamos no sentido de levar alegria, afinal a tristeza essas pessoas já tem de sobra e alegria, afeto, amparo potencializam a aça dos medicamentos, isso clinicamente comprovado.
Para conhecer mais sobre o trabalho de Rozzy entre nos sites;
http://www.rozzibrasil.blogspot.com/
www.casadavida.org.br

4 comentários:

  1. Parabénssssss amiga...bela entrevista!!!
    bjsss em Verde & Branco e SALVE JORGE!!! rsrsrs

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  2. Aha! Tinha que ser Imperiana e Imperial a primeira amiga leitora a postar comentário aqui! Que alegria! Fico feliz que tenha gostado! E mais ainda que a minha militância muda (jamais surda) tenha esse efeito lindo de levar heterossexuais a ler blogs ditos gays! Inclusão é isso, seres humanos com uma unica afinidade: são seres humanos.

    (fico imaginando quem será o 1º gay a comentar... Ai essa homofobia internalizada do gay brasileiro... ai, ai!)
    Obrigadíssima!

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  3. ADOREI A ENTREVISTA, SOU FÃ NUMERO 1 DA ROZZI, UM TALENTO NATO, PARABÉNS A ELA, E A VOCES PELA ENTREVISTA - MÍRIAM GOMES.

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  4. Obrigada, Míriam pela audiência!
    Claro, que a qualidade da entrevista tem a ver também com o entrevistador, eu até pensei que esse menino quisesse me comprometer, umas perguntinhas cabeludinhas, não...
    rsrsrsrsrs que bom que me saí bem (por enquanto)

    Esse negócio de fã nº1 é meio complicado mas eu vou mandar fazer várias camisetas com o número 1 na frente e o problema estará resolvido Obrigadíssima!

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